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Quando o Diagnóstico Chega: O Silêncio Antes da Luz

Ilustrações: @julianaoliveirailustradora


Receber o diagnóstico de autismo do meu filho foi como estar no meio de uma estrada e, de repente, o mundo parar. O chão sumiu. As palavras do médico ecoavam como se tivessem sido ditas debaixo d’água. Um silêncio ensurdecedor me envolveu. Eu não sabia se chorava, se gritava, se perguntava “por quê?” ou apenas fugia dali.


O diagnóstico paralisa. Assusta. Destroça planos invisíveis que a gente traçou sem nem perceber. E mergulha a gente num luto silencioso — porque sim, existe um luto que vem antes da aceitação. Um luto pelas expectativas, pelas comparações, pelos “normal” que nos ensinaram a esperar.


Passei por ele. Pelo medo, pela dúvida, pelas noites em claro com a cabeça cheia de perguntas e o coração pesado. "Será que ele vai falar?" "Vai ter amigos?" "Vai ser feliz?" E por mais que eu tentasse ser forte, havia dias em que tudo que eu conseguia era chorar no banho pra ninguém ver.


Mas, entre uma dor e outra, entre uma consulta e um novo desafio, algo começou a mudar. Comecei a enxergar beleza nos detalhes. Descobri que o autismo também pode ensinar. Johann me revelou um mundo novo — um mundo mais sensível, mais sincero, onde os sorrisos não são forçados e os progressos, por menores que sejam, têm gosto de vitória épica.


O fardo é pesado, não vou romantizar. Há cansaço, há solidão, há uma sociedade inteira que ainda precisa aprender sobre empatia e inclusão. Mas também há magia. Há uma conexão que transcende palavras. Há sonhos — diferentes, mas intensos — que florescem mesmo em terrenos difíceis.


“João e o Pé de Sonho” nasceu desse lugar. Um lugar de dor, sim, mas também de resiliência, afeto e esperança. Escrevê-lo foi minha forma de transformar angústia em caminho, de dar sentido a uma jornada que tantas mães vivem em silêncio. É minha tentativa de dizer: você não está sozinha. Há conhecimento, sim. Há superação. Mas, acima de tudo, há amor. Um amor que desafia qualquer diagnóstico.


Se meu filho me ensinou algo, foi isso: não existe um só jeito de ser incrível.

 
 
 

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